Antes de encerrar, gostaria de colocar outra coisa. O próprio Cristo é a base da adoração. Se o prazer e satisfação de Deus é o que está em vista, o que mais podemos trazer que vai atingir esse objetivo? Podemos trazer qualquer coisa que vá satisfazer a Deus? Sabemos que não. Nada do que pode satisfazer a Deus pode ser encontrado em nós. Existe apenas Um do qual o Pai é capaz de dizer, “em Ti me comprazo”. Apenas Cristo responde a todas as demandas de Deus. Apenas Cristo pode satisfazer o Pai. Então se a igreja deve ter essa função – quando falo da igreja, falo de uma companhia de crentes individuais unidos em um Espírito e vida; o termo “individual” não perde seu significado no Corpo – se a igreja é chamada para essa vocação maravilhosa e celestial de trazer satisfação a Deus, e Cristo apenas pode fazer isso, então o ponto essencial obviamente é que Cristo deve nos suplantar. Devemos sair do caminho para que Ele possa entrar. Então voltamos ao início.
Se a adoração é alcançar o grande clímax do fim, se Deus vai vir diretamente para os Seus; e se esse tempo está se aproximando e se delineando, então isso significa que Deus vai se esforçar cada vez mais para deslocar aquilo que o Anticristo prende. Para tanto, uma das coisas mais profundas nos tratos de Deus com Seu povo no tempo do fim é obter espaço para Cristo, e mais e mais espaço para Ele. Ele está nos colocando para fora progressivamente. Ele está nos trazendo a tal fraqueza, impotência, desamparo, incapacidade, tolice, que talvez sejamos o estoque de piadas do mundo. Não sabemos, não somos capazes de fazer. Será que isso está certo? Será que o povo de Deus deve ser assim? Será que deles mesmos, nunca sabem nada ou não podem fazer nada? Bem, por mais dolorosa e humilhante que seja essa proposição para nossas naturezas, é exatamente isso; e é isso que significa perder a nossa alma. Mas o ponto no momento é, para que tudo isso? Apenas para dar espaço a Cristo, dar mais espaço a Cristo. É pelo que Ele é que Deus será glorificado, pelo que Deus vê nEle, não no que o homem vê nEle. Acredito que isso seja o que está por trás daquela afirmação dEle, “Eu, porém, não aceito humano testemunho” [Jo 5:34]. “Outro é o que testifica a meu respeito” [Jo 5:32].
Os homens podem chegar a suas conclusões a respeito dEle, podem ter suas estimativas e podem testemunhar para Ele; dizer isso ou aquilo a respeito dEle, mas o julgamento deles do que Ele é, seja bom ou ruim, é puramente um julgamento natural, e não é isso que importa. Oh, quão absoluto era Cristo! O que leva um homem com uma humanidade sem pecado a não ficar nem um pouco satisfeito interiormente quando alguém está dando uma boa opinião sobre ele, dizendo algo agradável, dando testemunho de que ele é alguma coisa. Mas Ele podia dizer, ‘O que os homens pensam, bom ou mau, não Me toca. Eu sei o valor disso; sei que isso não vai muito longe; isso iria Me colocar em uma posição totalmente falsa. Hoje eles podem clamar: “Hosana!” Amanhã vão clamar, “Crucifiquem-no!” Suponha que tivesse ficado eufórico com seus clamores: “Hosana!” Onde estarei amanhã? Eu não recebo o testemunho do homem, Eu vivo diante de Deus.’
É uma grande coisa viver diante de Deus. Hoje o Senhor está buscando nos conformar com essa imagem, que é, dar lugar àquele Cristo, tendo como resultado que Cristo terá um grande espaço em nós, e isso trará uma grande medida de prazer ao Pai; isso é trazido ao Pai é adoração. Amado, não é apenas o que falamos que é louvor; porque apesar de nossas palavras poderem ser uma verdadeira e aceitável oferta, o que o Senhor está buscando nesse tempo, e o que nós devemos pedir a Ele que produza em nós, é a verdadeira medida do Seu Filho. Uma vida que é uma oferta aceitável a Deus, é a vida em quem Cristo tem um grande lugar. Então essa autenticidade do louvor não é meramente a sinceridade da expressão, ou a pureza das motivações, ou intensidade da expressão, mas é o que está surgindo de uma vida que passou pela disciplina, de um espírito quebrado e contrito; saindo daquilo que foi esvaziado, derramado, drenado, enfraquecido, ferido, dando lugar ao Senhor, uma grande medida de Cristo. Possa o Senhor ter isso em nós.
Essa é a igreja e isso é o que o Senhor está buscando encontrar em nós pelos Seus tratos conosco, e, por mais estranho e contraditório possa parecer, é nesse quebrantamento, esvaziamento, nessa fraqueza e nessas feridas que Satanás é derrotado. Oh! Satanás triunfa quando tem outra coisa além disso. O Anticristo está provendo a ele esse tipo de humanidade ou homem que ele busca, que não é vazio, quebrado, derramado, desinteressado. Essa é a força de Satanás.
Extraído do livro “O Cristo, o Anticristo, e a Igreja” – T.Austin-Sparks