Páginas

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Segredo da Verdadeira Adoração

Antes de encerrar, gostaria de colocar outra coisa. O próprio Cristo é a base da adoração. Se o prazer e satisfação de Deus é o que está em vista, o que mais podemos trazer que vai atingir esse objetivo? Podemos trazer qualquer coisa que vá satisfazer a Deus? Sabemos que não. Nada do que pode satisfazer a Deus pode ser encontrado em nós. Existe apenas Um do qual o Pai é capaz de dizer, “em Ti me comprazo”. Apenas Cristo responde a todas as demandas de Deus. Apenas Cristo pode satisfazer o Pai. Então se a igreja deve ter essa função – quando falo da igreja, falo de uma companhia de crentes individuais unidos em um Espírito e vida; o termo “individual” não perde seu significado no Corpo – se a igreja é chamada para essa vocação maravilhosa e celestial de trazer satisfação a Deus, e Cristo apenas pode fazer isso, então o ponto essencial obviamente é que Cristo deve nos suplantar. Devemos sair do caminho para que Ele possa entrar. Então voltamos ao início.

Se a adoração é alcançar o grande clímax do fim, se Deus vai vir diretamente para os Seus; e se esse tempo está se aproximando e se delineando, então isso significa que Deus vai se esforçar cada vez mais para deslocar aquilo que o Anticristo prende. Para tanto, uma das coisas mais profundas nos tratos de Deus com Seu povo no tempo do fim é obter espaço para Cristo, e mais e mais espaço para Ele. Ele está nos colocando para fora progressivamente. Ele está nos trazendo a tal fraqueza, impotência, desamparo, incapacidade, tolice, que talvez sejamos o estoque de piadas do mundo. Não sabemos, não somos capazes de fazer. Será que isso está certo? Será que o povo de Deus deve ser assim? Será que deles mesmos, nunca sabem nada ou não podem fazer nada? Bem, por mais dolorosa e humilhante que seja essa proposição para nossas naturezas, é exatamente isso; e é isso que significa perder a nossa alma. Mas o ponto no momento é, para que tudo isso? Apenas para dar espaço a Cristo, dar mais espaço a Cristo. É pelo que Ele é que Deus será glorificado, pelo que Deus vê nEle, não no que o homem vê nEle. Acredito que isso seja o que está por trás daquela afirmação dEle, “Eu, porém, não aceito humano testemunho” [Jo 5:34]. “Outro é o que testifica a meu respeito” [Jo 5:32]. 

Os homens podem chegar a suas conclusões a respeito dEle, podem ter suas estimativas e podem testemunhar para Ele; dizer isso ou aquilo a respeito dEle, mas o julgamento deles do que Ele é, seja bom ou ruim, é puramente um julgamento natural, e não é isso que importa. Oh, quão absoluto era Cristo! O que leva um homem com uma humanidade sem pecado a não ficar nem um pouco satisfeito interiormente quando alguém está dando uma boa opinião sobre ele, dizendo algo agradável, dando testemunho de que ele é alguma coisa. Mas Ele podia dizer, ‘O que os homens pensam, bom ou mau, não Me toca. Eu sei o valor disso; sei que isso não vai muito longe; isso iria Me colocar em uma posição totalmente falsa. Hoje eles podem clamar: “Hosana!” Amanhã vão clamar, “Crucifiquem-no!” Suponha que tivesse ficado eufórico com seus clamores: “Hosana!” Onde estarei amanhã? Eu não recebo o testemunho do homem, Eu vivo diante de Deus.’

É uma grande coisa viver diante de Deus. Hoje o Senhor está buscando nos conformar com essa imagem, que é, dar lugar àquele Cristo, tendo como resultado que Cristo terá um grande espaço em nós, e isso trará uma grande medida de prazer ao Pai; isso é trazido ao Pai é adoração. Amado, não é apenas o que falamos que é louvor; porque apesar de nossas palavras poderem ser uma verdadeira e aceitável oferta, o que o Senhor está buscando nesse tempo, e o que nós devemos pedir a Ele que produza em nós, é a verdadeira medida do Seu Filho. Uma vida que é uma oferta aceitável a Deus, é a vida em quem Cristo tem um grande lugar. Então essa autenticidade do louvor não é meramente a sinceridade da expressão, ou a pureza das motivações, ou intensidade da expressão, mas é o que está surgindo de uma vida que passou pela disciplina, de um espírito quebrado e contrito; saindo daquilo que foi esvaziado, derramado, drenado, enfraquecido, ferido, dando lugar ao Senhor, uma grande medida de Cristo. Possa o Senhor ter isso em nós.

Essa é a igreja e isso é o que o Senhor está buscando encontrar em nós pelos Seus tratos conosco, e, por mais estranho e contraditório possa parecer, é nesse quebrantamento, esvaziamento, nessa fraqueza e nessas feridas que Satanás é derrotado. Oh! Satanás triunfa quando tem outra coisa além disso. O Anticristo está provendo a ele esse tipo de humanidade ou homem que ele busca, que não é vazio, quebrado, derramado, desinteressado. Essa é a força de Satanás. 


Extraído do livro “O Cristo, o Anticristo, e a Igreja” – T.Austin-Sparks

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Adoração Envolve Conflito

Nesse momento já devemos conhecer o bastante sobre a diferença entre alma e espírito sem que eu precise acrescentar muito mais sobre o assunto. Mas esse não é o objetivo de estar falando disso. Devemos chegar a esse ponto, onde a adoração entra em uma esfera de conflito, ou, colocando de outra forma, o conflito entra na esfera da adoração. Aqui nós temos os dois tipos de adoração em guerra um com o outro, e é apenas nesse ponto que a Igreja entra em cena. A igreja é chamada para ser um vaso de adoração. O que é adoração? Trazer a Deus Seus direitos. Quando o Cristo entrou em cena e assumiu Seu principal trabalho de assegurar os direitos de Deus, imediatamente Satanás entrou em cena, e ali houve conflito. Esse é o combate, é um combate até o fim. A igreja é trazida a ele, para o exato propósito de trazer a Deus o que é Seu; ser nesse universo uma expressão plena pelos interesses de Deus. Por causa desse chamado, a vocação e destino da igreja, todo o poder desse que busca adoração é focado sobre a igreja, como foi focado em Cristo enquanto estava neste mundo. Esse é o ponto de conflito com o mundo, e esse é o significado do mundanismo, a saber, qualquer coisa que afasta do Senhor, ou que tenta roubar os direitos de Deus. Colocando isso de outra maneira, qualquer coisa que cede adoração ao diabo, sobre aquilo que o seu coração está colocado, isso é mundanismo.

A igreja, portanto, entra neste conflito, e por isso tem que se posicionar fortemente e positivamente em relação a sua Cabeça gloriosa. Ela deve trazer tudo para o Senhor, e extrair tudo Dele. Tudo deve ser levado em direção ao Senhor quando a Igreja está funcionando. Tudo deve ser trazido de volta para o Senhor. Existe um grande movimento contrário para afastar, arrastar e manter tudo distante do Senhor, e você encontra esse movimento de inúmeras formas, especialmente quando a igreja está reunida. Você encontra esse movimento contrário expresso de inúmeras maneiras para que essa função seja abortada, tornada infrutífera e transformada em algo meramente formal, frio e sem vida. Então a Igreja deve tomar uma atitude militante de adoração, e é por isso que você tem sacerdotes nas batalhas de Israel. Vemos isso em Jericó, por exemplo, e em muitas outras instâncias. A presença do elemento sacerdotal significa que aquilo é adoração, a glória tem que ser dada ao Senhor. Tudo é direito do Senhor, é para o Senhor. Mas em um exército, com sacerdotes encabeçando-o, o fator militante é relacionado à adoração. Adoração só pode ser completa através do conflito. É uma verdadeira batalha assegurar os diretos de Deus.

Isso é apresentar a verdade, mas qual é significado prático disso para nós? Significa, amado, que em todos os tempos, e talvez especialmente quando somos encontrados juntos em nossa função suprema que é para adorar, temos que nos colocar de forma deliberada e positiva em resistência a tudo que pode nos afastar disso, de todas essa obras do princípio do espírito do Anticristo, e nos colocar em uma posição pelas direitos de Deus, para que Ele tenha tudo que merece em todo o tempo. Isso nos chama a uma posição positiva. Me pergunto se você vai se lembrar disso quando estivermos juntos em oração, toda a vez que nos encontramos. O ministério da Palavra é, afinal de contas, apenas adoração. Se não dirige as coisas para o Senhor e para Sua glória, se não significa que os interesses do Senhor são alargados, então perdeu todo o seu objetivo.


Extraído do livro “O Cristo, o Anticristo, e a Igreja” – T.Austin-Sparks

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Adoração demanda um Certo Estado

A adoração, esse serviço, demanda - entre outras coisas - certa condição. Ela é baseada em um tipo de espírito. Esse é o estado descrito naquela pequena frase de João 4, “em espírito”. Verdadeiros adoradores devem adorar em espírito. “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade...”. Isso é uma afirmação. “Em espírito”, resumindo em uma frase - vivendo em união espiritual viva com o Senhor. Isso é algo que é interior. É isso que o Senhor estava falando. A mulher samaritana disse a Jesus, “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” [Jo 4:20] O Senhor Jesus, em efeito, disse em resposta, ‘Isso é apenas externo, formal, tradicional, não é a verdadeira adoração! Verdadeira adoração é no espírito, e isso é algo interior.’ 

Adoração não é algo formal, tradicional, externo: certamente vai se expressar e transparecer, mas tudo se inicia e tem sua fonte no interior, uma união viva com Deus. Isso é o resultado de um milagre, o resultado de algo que aconteceu. Ninguém que não conheceu o milagre do novo nascimento ou da união com o Senhor em ressurreição pode ser um verdadeiro adorador. Mas aqueles que têm esse conhecimento e experiência devem ser verdadeiros adoradores. Isso é o mesmo que dizer que essa é a base da adoração; essa realidade deve brotar em adoração. O primeiro esforço na adoração deve ser fruto da admiração àquilo que aconteceu em nós, para nos trazer a essa união viva com nosso Deus. Portanto estamos unidos ao Senhor pela ação inicial do Espírito Santo, e isso deve sempre ser tão fresco como o fato da adoração. Isso deve levar à adoração espontânea ao Senhor; não apenas um ato de anos atrás, mas o prosseguir na admiração, glória e bênção de uma perpétua realidade. Eu sou do Senhor! Eu sou Dele, Ele é meu! Isso é simples, uma base inicial da adoração, algo interior. Temos que reconhecer que esse é o estado que causa a adoração. 

E em conjunto com isso, temos que reconhecer o inimigo da verdadeira adoração, a adoração em verdade – não apenas em espírito, mas em verdade – está em nossas almas como algo separado desse estado espiritual. Seguindo paralelamente aquilo que é “em espírito e em verdade”, existe sempre aquilo que é em alma e na carne. Uma mentira, aquilo que não é verdade. É muito fácil para o povo do Senhor passar de um tipo de adoração para o outro sem sequer perceber que fizeram isso. Você pode ter um verdadeiro e espontâneo fluir de adoração, que é em espírito e em verdade, e então quase que imperceptivelmente sair dessa esfera e sentir que saiu da base verdadeira; que você foi levado do seu espírito para as suas emoções, da realidade para algo irreal. É possível que isso aconteça entre pessoas espirituais, e acontece com muita frequência. Você vai encontrar esses dois casos em qualquer encontro de oração onde esteja o povo do Senhor. Você percebe um fluir espiritual verdadeiro, e então surge aquilo que é ostensivamente ou intencionalmente adoração ao Senhor de alguma maneira, mas que na realidade é algo diferente, não é em espírito, em verdade. 

Percebemos algo que veio em alguma outra linha, através de algum sentimento, ou alguma atividade racional. Mas não estou dizendo isso para tornar as coisas complicadas ou difíceis, mas estamos tentando chegar a questão da verdadeira adoração. Fora dessa dupla tensão na qual nos encontramos ou que está entre nós, você tem que reconhecer que tudo aparenta ser adoração, mas não é. Existe um grande volume daquilo que é chamado adoração que é adoração da alma, e não é verdadeira adoração, em espírito e em verdade. É falsa. Não é fruto de vida, da vida divina e, portanto leva–nos para longe. Oh como esse elemento do anticristo, isso que está no homem que está de acordo com o espírito do Anticristo, energizado e direcionado pelo inimigo como ele é, busca em todo tempo afastar, conduzir para fora, impedindo que aconteça ou permaneça esse contato vivo com o Senhor, interferindo com aquilo que realmente alcança o Senhor! É tudo muito agradável, mas tem o efeito oposto: afasta, traz as coisas para baixo. Está lá o tempo todo.


Extraído do livro “O Cristo, o Anticristo, e a Igreja” – T.Austin-Sparks