A adoração, esse serviço, demanda - entre outras coisas - certa condição. Ela é baseada em um tipo de espírito. Esse é o estado descrito naquela pequena frase de João 4, “em espírito”. Verdadeiros adoradores devem adorar em espírito. “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade...”. Isso é uma afirmação. “Em espírito”, resumindo em uma frase - vivendo em união espiritual viva com o Senhor. Isso é algo que é interior. É isso que o Senhor estava falando. A mulher samaritana disse a Jesus, “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” [Jo 4:20] O Senhor Jesus, em efeito, disse em resposta, ‘Isso é apenas externo, formal, tradicional, não é a verdadeira adoração! Verdadeira adoração é no espírito, e isso é algo interior.’
Adoração não é algo formal, tradicional, externo: certamente vai se expressar e transparecer, mas tudo se inicia e tem sua fonte no interior, uma união viva com Deus. Isso é o resultado de um milagre, o resultado de algo que aconteceu. Ninguém que não conheceu o milagre do novo nascimento ou da união com o Senhor em ressurreição pode ser um verdadeiro adorador. Mas aqueles que têm esse conhecimento e experiência devem ser verdadeiros adoradores. Isso é o mesmo que dizer que essa é a base da adoração; essa realidade deve brotar em adoração. O primeiro esforço na adoração deve ser fruto da admiração àquilo que aconteceu em nós, para nos trazer a essa união viva com nosso Deus. Portanto estamos unidos ao Senhor pela ação inicial do Espírito Santo, e isso deve sempre ser tão fresco como o fato da adoração. Isso deve levar à adoração espontânea ao Senhor; não apenas um ato de anos atrás, mas o prosseguir na admiração, glória e bênção de uma perpétua realidade. Eu sou do Senhor! Eu sou Dele, Ele é meu! Isso é simples, uma base inicial da adoração, algo interior. Temos que reconhecer que esse é o estado que causa a adoração.
E em conjunto com isso, temos que reconhecer o inimigo da verdadeira adoração, a adoração em verdade – não apenas em espírito, mas em verdade – está em nossas almas como algo separado desse estado espiritual. Seguindo paralelamente aquilo que é “em espírito e em verdade”, existe sempre aquilo que é em alma e na carne. Uma mentira, aquilo que não é verdade. É muito fácil para o povo do Senhor passar de um tipo de adoração para o outro sem sequer perceber que fizeram isso. Você pode ter um verdadeiro e espontâneo fluir de adoração, que é em espírito e em verdade, e então quase que imperceptivelmente sair dessa esfera e sentir que saiu da base verdadeira; que você foi levado do seu espírito para as suas emoções, da realidade para algo irreal. É possível que isso aconteça entre pessoas espirituais, e acontece com muita frequência. Você vai encontrar esses dois casos em qualquer encontro de oração onde esteja o povo do Senhor. Você percebe um fluir espiritual verdadeiro, e então surge aquilo que é ostensivamente ou intencionalmente adoração ao Senhor de alguma maneira, mas que na realidade é algo diferente, não é em espírito, em verdade.
Percebemos algo que veio em alguma outra linha, através de algum sentimento, ou alguma atividade racional. Mas não estou dizendo isso para tornar as coisas complicadas ou difíceis, mas estamos tentando chegar a questão da verdadeira adoração. Fora dessa dupla tensão na qual nos encontramos ou que está entre nós, você tem que reconhecer que tudo aparenta ser adoração, mas não é. Existe um grande volume daquilo que é chamado adoração que é adoração da alma, e não é verdadeira adoração, em espírito e em verdade. É falsa. Não é fruto de vida, da vida divina e, portanto leva–nos para longe. Oh como esse elemento do anticristo, isso que está no homem que está de acordo com o espírito do Anticristo, energizado e direcionado pelo inimigo como ele é, busca em todo tempo afastar, conduzir para fora, impedindo que aconteça ou permaneça esse contato vivo com o Senhor, interferindo com aquilo que realmente alcança o Senhor! É tudo muito agradável, mas tem o efeito oposto: afasta, traz as coisas para baixo. Está lá o tempo todo.
Extraído do livro “O Cristo, o Anticristo, e a Igreja” – T.Austin-Sparks
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